Da Pobreza ao Silêncio: Como Minha Infância Moldou Minha Visão do Amor
Nasci em 1982, em uma cidade pequena no interior de São Paulo, em um casebre de madeira que mal nos protegia do frio e da chuva. Minha família era grande meus pais e mais três irmãos, mas o que não era grande era a nossa mesa. Muitas vezes, o prato vazio era o único companheiro das nossas refeições. A pobreza era tão presente que, às vezes, a fome era o nosso despertador. Mas, como crianças, encontrávamos refúgio nas brincadeiras na terra, nas risadas que ecoavam pelo quintal e nas águas geladas do riozinho onde lavávamos os pedaços de pano que serviam como nossas roupas.
Enquanto eu crescia, comecei a perceber que a nossa casa era cercada por algo além da pobreza: era rodeada de mulheres. Mulheres que riam alto, que sentavam no colo do meu pai, que recebiam tapas nas nádegas como se fossem brincadeiras. Meu pai, que deveria ser o provedor, faltava ao trabalho para se divertir com elas, como um rei em seu harém. E minha mãe? Ela estava sempre lá, em silêncio, cuidando de tudo sozinha. Submissa. Sem voz.
Eu a via lavando roupa, cozinhando, cuidando dos filhos, enquanto meu pai desrespeitava ela e a nossa família na frente de todos. Ela chorava calada, e eu chorava com ela, mesmo sem entender direito o que estava acontecendo. Aquela imagem de uma mulher sem força, sem voz, sem poder de escolha, ficou gravada em mim. E, sem perceber, eu carreguei essa lição para a vida adulta: que o amor era sinônimo de sofrimento, de silêncio, de aceitação.
Anos depois, quando me vi em um relacionamento abusivo, eu não reconheci os sinais. Afinal, aquilo era o que eu conhecia como 'amor'. Mas essa é uma história que não termina na dor. Esta é a história de como eu descobri que o amor não precisa doer – e de como eu aprendi a me libertar.
Mas o que eu não sabia é que aquela criança ferida carregaria suas cicatrizes para a vida adulta – e que elas me levariam direto para os braços de um amor que doía.
Não perca a Parte 2, onde vou contar como tudo começou e os sinais que ignorei.
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